UM ADEUS POSITIVO A 2015
O ano de 2015 talvez tenha sido dos mais
irônicos da minha vida.
Eu tomei a decisão de me separar depois de 11
anos de relacionamento, por sentir que estar sozinha junto era pior que estar
sozinha de fato. Também quis me separar por ter a estranha noção de que, assim,
salvaria a amizade, o respeito e até o amor que sentíamos um pelo outro. Até agora,
parece ter sido tudo confirmado.
Eu tive um surto depressivo, rápido, porém,
intenso, que me fez aceitar o fato de que eu queria morrer. Por mais horrível
que seja essa sensação, aceitá-la me forçou a parar, a rever prioridades, a
entender o que era que meu âmago – que, em verdade, nem queria mesmo morrer –
queria que eu visse. Meu desejo de morte foi o impulso de vida mais forte que
já senti.
Eu me arrisquei a diminuir minha carga
horária e minha dedicação na área pública para investir em uma nova carreira na
área privada, no andar cavalar de uma crise econômica. Mas foi assim que
descobri uma atividade que gosto, foi assim que melhorei meu padrão de vida e
foi assim que ajudei alguns amigos, que já sentiam o gostinho da tal crise, e
que vieram contribuir comigo.
Com o novo trabalho e uma rotina insana, eu
me virei como pude para estar com minhas filhas, valorizando cada momento. E
também, para não estar com elas, numa época em que faltaram babás e secretárias
de confiança, o que me fez recorrer a parentes e amigos.
Algumas vezes, não vi minhas filhas por conta
do trabalho. Outras, por conta de acreditar que, como indivíduo, mereço, sim, “sacrificá-las”
para fazer ‘besteiras’, como ver amigas, sair pra dançar e beber vinho ou para
ficar em casa, sozinha, respirando a quase inexistente solidão produtiva que se
perde ao ter filhos.
Eu me reaproximei de relações familiares que,
apesar de intensas, já eram tratadas por mim como diplomáticas, e quando finalmente
passei da diplomacia para a sinceridade do “ser eu mesma”, fui acusada de estar
diferente. E a causa? Sempre, como sempre, por uma suposta influência que os
outros exercem sobre mim. Me dá raiva só de ouvir isso. Sempre foi um dos
jeitos mais fáceis de me ofender. Mas isso me fez pensar sobre como, de fato, dou
importância às opiniões de pessoas que gosto. Às vezes, até das que não gosto.
Eu gosto de saber o que os outros sabem de mim. Feio, eu sei. Mas o pior foi
descobrir que elas ADORAM o fato de eu querer saber o que elas querem para mim.
Aí, depois que ouço suas opiniões, e as
carrego para o fundo do meu coração e da minha cabeça, decido se vou ou não cumpri-las.
E quando eu decido que não, rapaz, é um surto. Quem meteu o bedelho e não foi
obedecido, fica com raiva de mim, me joga coisas na cara, pois, um dos jeitos
mais fáceis de me quebrar, até então, era me fazer sentir culpada. Culpa é algo
eu já sentia 95% do tempo, ao longo da minha vida. Agora, quero que todo mundo
se foda antes de mim e das minhas filhas. Sinto muito se achei o seu conselho
uma merda. Agradeço, mas declino.
O problema com as orientações e os conselhos
dos outros é que, toda vez que os segui cegamente, me vi sozinha, de uma forma
ou de outra. Desamparada, de um lado, por não ter feito que eu queria.
Desamparada, por outro, porque quem me orientou ou nunca ficou satisfeito ou
acabou assistindo tudo cair por terra, sem nem cogitar assumir uma
corresponsabilidade. A vida é sua. O problema é seu. E estão certos, mas agora, antes de enfrentar
o problema, eu só sigo orientação que eu acreditar que vale. Foi mal aê.
Crescer é uma merda. Sentir que só se está
crescendo aos 36, puta merda, mais doloroso ainda. Me ver absorvendo lições que
minhas filhas também estão absorvendo aos 6 e 5 anos pode ser humilhante. Acabo
passando pra elas uma opinião de criança, da criança que eu fui e que não
respondeu aos baques. Se minha filha me diz que sofreu bullying na escola, meu
primeiro impulso é falar para ela socar a cara da guria. Depois respiro, e digo
que ela pode se sentir segura para dar uma resposta, porque ela tem pessoas que
a amam e sabem o tanto que ela é especial e que, por isso, ela nunca precisa
ter medo. Mas que, se ela não quiser responder, tudo bem também, desde que não
carregue a mágoa dentro dela. E se tudo falhar, a gente soca a cara da guria.
Enfim, depois de anos alimentando o péssimo
hábito de reclamar, este ano eu diminuí drasticamente meus lamentos, mas já era
tarde demais. Vi gente querida tentando me ‘salvar’ justamente na fase que mais
me senti fortalecida. O excesso de trabalho e o fato de viver num país que não
facilita a maternidade em nada são difíceis? Sem dúvida. Mas é justamente ser
feliz e guerreira nesse contexto que me faz sentir forte e capaz de superar
tudo que jogarem pra cima de mim.
Assim, agradeço a todas as amizades, a todos
os elogios e palavras de conforto, pois teve gente que fez toda a diferença na
minha vida. Mas também agradeço a quem, mesmo sem querer, me fez sentir mal, me
fez questionar minhas escolhas nem que fosse com o intuito de defendê-las. Pois
eu as defendo. Não existiria caminho diverso sem tirar desse cenário as minhas
filhas, por exemplo. Não existiria um sucesso profissional sem o sacrifício de
amizades e de experiências de vida que me fizeram justamente essa guerreira que
sinto ser hoje. E apesar de fraquejar e chorar de cansaço direto, eu vejo 2015
como um ano de pura vitória. Parabéns pra mim. Finalmente, eu sinto que mereço.
Valeu, 2015.
Que em 2016 você se torne. Literalmente, a mulher maravilha.
ResponderExcluirBjo!!
Que em 2016 você se torne. Literalmente, a mulher maravilha.
ResponderExcluirBjo!!
Hahahaha Deos me livre. Só quero ser feliz. :-)
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